segunda-feira, 27 de agosto de 2018

FLEXÃO X DERIVAÇÃO - Trabalho acadêmico

TRABALHOS ACADÊMICOS
Dentre outros assuntos, utilizarei esse espaço para publicar os trabalhos acadêmicos do meu Curso de Letras, na Unicesumar. Espero que possa contribuir com outros estudantes da nossa língua portuguesa.

FLEXÃO X DERIVAÇÃO


Quando pensamos no ensino da língua portuguesa, embora as regras e normas da gramática sejam necessárias e importantes, muitas vezes profissionais da área encontram dificuldade em explicar conteúdos gramaticais, como são tratados pelas normas tradicionais. Os estudiosos e pesquisadores buscam novas formas para utilizar e aplicar de maneira prática a nossa língua.
Assim sendo, pretendo levantar a seguinte questão: O grau dos substantivos deve ser considerado flexão ou derivação? Para melhor compreensão do assunto veremos o que pensam os linguistas e gramáticos sobre a matéria, a diferença entre flexão e derivação, e no final mostrarei porque o substantivo não se flexiona em grau.
Os autores Celso Cunha e Lindley Cintra – Nova Gramática do Português Contemporâneo (2008), seguem a NGB, apresentando três graus dos substantivos quanto a flexão: normal, aumentativo e diminutivo. Os adjetivos também seguem a mesma norma. Eles ressaltam que nem sempre o aumentativo está relacionado ao aumento de tamanho e o diminutivo a redução do tamanho do ser ou objeto descrito. Em alguns casos, podem significar depreciação, afeto e expressão de outros tipos de sentimentos.
Emani Terra e José de Nicola, na Gramática de Hoje (2008), também segue a NGB, afirmando: “Visto que o substantivo pode variar, vamos ampliar a definição de substantivo: substantivo é a palavra variável em gênero, número e grau que dá nome aos seres”. Eles defendem que o grau é puramente flexional, considerando que “o substantivo admite flexão de grau, isto é, podemos indicar o tamanho do ser que o substantivo representa em relação a um grau considerado normal”
Matoso Câmara (1970), o primeiro a considerar o assunto, na primeira metade do século XX, posicionou-se contra a tradição gramatical considerando a expressão de grau como um processo não flexional: “a expressão de grau não é um processo flexional em português, porque não é um mecanismo obrigatório e coerente, e não estabelece paradigmas exaustivos e de termos exclusivos entre si”.
Seguindo a linha de pensamento de Câmara, Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (2009), não concorda com o que diz a NGB e ressalta que o grau não é um processo flexional, e sim derivacional, fazendo-nos refletir entre flexão e derivação. Também aborda a diferença entre substantivo, adjetivo e pronome, onde para muitos podem ser considerados um processo de flexão, ocorre o oposto, ou seja, um processo derivacional.
Por incrível que pareça, após pesquisa em algumas gramáticas escolares acerca da definição de flexão, não encontrei. A maioria delas traz o seguinte, ao iniciar o capítulo sobre flexão: “O substantivo flexiona-se em gênero, número e grau.” Fiquei curioso! Por que será que não explicam o que é uma flexão?
Segundo o prof. José Pereira da Silva, flexão é a modificação que a palavra sofre para concordar com outras. A flexão é formar modos de dizer a mesma palavra.
Por que a flexão é um processo sistemático, fechado, obrigatório, e de congruência (ou concordância)? “No plano sintagmático, a flexão provoca o fenômeno da concordância: móvel novo > móveis novos em oposição a a casa nova > a casinha nova.” (BECHARA, 1999: 341)
Para entender melhor a flexão, vejamos a definição dada por Câmara Jr. em seu Estrutura da Língua Portuguesa: “... o gramático latino Varrão (116 a.C. – 26 a.C.) distinguia entre o processo de derivatio voluntaria, que cria novas palavras, e a derivatio naturalis, para indicar modalidades específicas de uma dada palavra.” (CÂMARA JR., 1970: 81) Podemos perfeitamente depreender que a derivativo voluntária representa bem a derivação e a derivativo naturalis, a flexão.
No entanto, a derivação é um processo de formação de novas palavras através do acréscimo a afixos a um radical (base). E esta nova palavra tem um novo significado, remetendo-nos a um outro ser diferente daquele que a ela deu origem. A derivação é um processo assistemático, porque não há regras para o surgimento de novas palavras. Há palavras que sofrem a derivação e outras não. Dependerá da necessidade que o falante/escritor tem em nomear seres, ações, estados, etc.
Mattoso Câmara em sua Estrutura da Língua Portuguesa, 1970, deu-nos um ótimo exemplo: “Uma derivação pode aparecer par um dado vocábulo e faltar para um vocábulo congênere. De cantar, por exemplo, deriva-se cantarolar, mas não derivações análogas para falar e gritar, outros dois tipos de atividade da voz humana.” (CÂMARA, JR., 1970: 81)
Importante salientar que a derivação é um processo aberto, porque existe a possibilidade de fazer ou não a derivação de um dado vocábulo. Vejamos alguns exemplos de derivação: Café – cafezal; Oliva – oliveira; Mesa – mesário; Sal – salário; Elefante – elefanta; Profeta – profetisa; Aluno – aluna.
Há também casos de derivação cuja palavra léxica é a mesma, porém como podemos perceber os significados são distintos: Veja o exemplo: O cabeça – líder. A cabeça – uma das grandes divisões do corpo humano constituída por crânio e pela face.
Considerando, que a derivação é o processo pelo qual formamos uma nova palavra, ou seja, se o acréscimo de um morfema traz nova significação. Que as gramáticas escolares, de um modo geral, trazem a questão da variação de grau do substantivo como flexão. Leva-nos a seguinte conclusão: Se ao acrescentar o sufixo derivacional “zinha” à base do vocábulo mulher, tem-se não só uma nova palavra, como também um novo significado, bem diferente do anterior. Desta forma, não há flexão de mulher para mulherzinha, e sim derivação.
Penso exatamente como o prof. Evanildo Bechara em sua Gramática Escolar da Língua Portuguesa, quando afirmou:
“Os substantivos apresentam-se com a sua significação aumentada ou diminuída, auxiliados por sufixos derivacionais: homem –   homenzarrão – homenzinho. A NGB, confundindo flexão com derivação, estabelece dois graus de significação do substantivo: a) aumentativo: homenzarrão b) diminutivo: homenzinho. A derivação gradativa do substantivo se realiza por dois processos, numa prova evidente de que estamos diante de um processo de derivação, e não de flexão: a) sintético – consiste no acréscimo de um final especial chamado sufixo derivacional aumentativo ou diminutivo: homenzarrão, homenzinho; b) analítico – consiste no emprego de uma palavra de aumento ou diminuição (grande, enorme, pequeno, etc.) junto ao substantivo: homem grande, homem pequeno.”

 Referências:
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. ampl. e atual conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
CALICCHIO, F. C. Língua Portuguesa I. Maringá-PR: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2018. 310 p.
CAMARA, Jr. Estrutura da língua portuguesa. Disponível em: https://bit.ly/2KFPNIu. Acesso em: 15 jun. 2018.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramatica do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.
TERRA, E.; NICOLA, J. de. Gramática de hoje. São Paulo: Scipione, 2008

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